Eu sou lúcida na minha loucura, 
Permanente na minha inconstância,
Inquieta na minha comodidade. 
Pinto a realidade com alguns sonhos, 
E transformo alguns sonhos em cenas reais. 
Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer 
Não derramo uma lágrima. 
Amo mais do que posso e, por medo, 
Sempre menos do que sou capaz. 
Busco pelo prazer da paisagem 
E raramente pela alegre frustração da chegada. 
Quando me entrego, me atiro 
Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo. 
Nem eu sou o que penso que eu sou. 
Nem nós o que a gente pensa que tem. 
Penso mais do que falo. 
E falo muito, nem sempre o que você quer saber. 
Mas há uma mulher em algum lugar em mim  Que usa caros perfumes, 
Sedas importadas e brilho no olhar, 
Quando se traveste em sedução. 
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, 
Não repare, eu não tenho pudores 
Mas, não raro, sofro de timidez. 
E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. 
Impaciente onde você vê ousadia. 
Falta de coragem onde você pensa que é sensatez. 
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer 
Em que eu esqueço todos os conselhos 
E sigo por caminhos escuros. 
Estranhos desertos. 
E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana,
Dessa violência cotidiana, se você me assalta, eu reajo.